BOCELLI EM MILÃO

Há quase dois meses, a Europa sofre com a maior tragédia desde a Segunda Guerra Mundial. Cidades em quarentena, dezenas de milhares de mortos, hospitais superlotados, idosos abandonados, famílias separadas. E essa já e uma cruel realidade em quase todas as nações. Por mais que os imbecis de todos os quadrantes do globo sejam incapazes de entender a gravidade do drama que vivemos, as imagens dos caminhões do exército italiano transportando caixões tem o poder de centenas de discursos.
No Domingo de Páscoa, data importante para os católicos de todo o mundo, a Milão tão castigada pela pandemia ofereceu ao mundo um tributo comovente. Um dos principais artistas italianos, numa das catedrais mais belas do Velho Mundo, cantou diante da imensidão vazia. Imagens das cidades postas de joelhos pelo coronavírus, com suas ruas e praças desertas – privadas do bulício das multidões de cidadãos e turistas – acompanharam a apresentação, que terminou diante da catedral com uma tocante versão de Amazing Grace.
E num mundo onde a humanidade se retraiu como jamais antes, com suas cidades tomadas por surreal silêncio, esses minutos soaram como uma prece erguida pelos homens a todos os deuses, de todas as crenças, de todas as partes. Que possamos logo superar esse inimigo; que possamos logo retomar nossas vidas (e consolar nossos corações por aqueles que estejam ausentes); que possamos logo nos reencontrar. Que assim seja.

Leandro Gonsales Ciccone
abril de 2020